Eu sempre
fui superprotegida pela minha família. Quando criança, podia brincar na rua de
minha casa até tarde, mas meu pai regulava a presença de meninos na
brincadeira, tentando me proteger deles como se fossem ameaças a vista. Mal sabe
ele que todas aquelas brincadeiras eram inocentes, sem nenhuma intenção ou
conotação sexual. Um dia, tive o infortúnio de participar de uma conversa
inconveniente entre garotos mais velhos da minha rua e meu pai pirou. Nunca mais
brinquei com eles.
Será que
essa superproteção dos pais é realmente necessária ou nos torna covardes quando
crescemos? Posso dizer que, por conviver muito com minha família sou
extremamente apegada a eles e, agora que estou prestes a completar meus
dezenove anos, está difícil me soltar.
Minha mãe,
meu pai, meus avôs e outras pessoas importantes não querem que eu saia de casa
e busque meus sonhos. Não é algo intencional, é só que na época em que eles estudavam
nada disso era necessário. É estranho para eles agora ver que eu quero buscar
novas inspirações, explorar novos horizontes e respirar novos ares.
Eu até os
entendo no aspecto de não desejarem minha partida em busca de rumos novos: no
meu estado a família é muito prezada e na minha família os almoços de domingo
são sagrados. Como seria o retrato disso tudo se eu não estivesse ali? É engraçado,
porque sempre gostei disso tudo, do nosso apego por nós, da nossa preocupação
uns com os outros, mas isso agora está me atrapalhando.
Não queria
dizer isso com todas as letras, mas é a verdade. Se eles quiserem que eu
fique, eu ficarei. Se eles permitirem que eu vá, eu irei. Eu os amo e levo em
consideração tudo o que eles acham melhor para mim, mesmo que eu esteja
pensando o contrário agora.
Às vezes,
como forma de desabafo eu escrevo, algumas vezes eu choro, outras eu apenas me
calo. Nunca fugi para desabafar ou me rebelar porque nunca houve essa necessidade,
sempre me dei bem com meus pais e familiares, sempre fui a filha, neta,
sobrinha, prima exemplar, a mais velha. Agora sinto necessidade de fugir, de
casa, de minha cidade, de explorar coisas velhas como se ainda houvesse alguma
valia ali.
Quero tirar
as rodinhas de mim, como fiz com minha bicicleta há alguns anos. Tomar confiança
e olhar para frente, pedalando rápido para um futuro incerto - sem me preocupar com a opinião deles pela primeira vez -, mas que desejo
que seja glorioso porque ninguém que ficou parado jamais alcançou algo
almejado, e eu almejo muitas coisas. Quero ser grande, importante, quero poder
escrever livros, quero tantas coisas... Mas primeiro, quero me livrar das rodinhas de segurança.
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